BRASÍLIA

 A capital do Brasil

E suas asas dormem

Asas de um morcego

Asas de um gavião

Que tudo ver

Asas de crianças

Que sonham

Asas de Arielle

Uma Trans que mora na rua e tem fome

Asas de estudantes 

Que dividem quartos de república 

Asas De mulheres na W3 norte que sonham em voar, 

mas que ganham a vida no banco detrás da aeronave 

Aqui nesse lugar muitos podem voar e outros não conseguem dar a partida

Poderia dizer que o barco está furado, 

mas esqueço que o lago Paranoá e suas lanchas, 

suas luzes e suas festas com champanhe tem seu glamour

Posso dizer que amanhã é outro dia

Mas me recordo de uma formiga que está a passear

Posso dizer que tudo passa

Mas me vem na memória o memorial do índio pataxó 

Posso dizer que he no (ele não)

Que he never (ele nunca)

Que they never (eles jamais)

Mas me vem na cabeça aqueles que retém, 

que vibram e aplaude a multidão a chorar, 

que batem suas panelas vazias e gritam suas dores sem soluçar 

Capital do Brasil

De tudo que já vivi 

De coisas que já sonhei 

De histórias que já contei

Fica minha admiração e o meu aguenta firme

És linda, teu céu é azul, teus filhos são sobreviventes

A rodoviária que o diga, 

que acolhe todos que passam, 

apresados para chegar no trabalho, 

até mesmo aqueles que gritam: 

olha a maçã, olha a água mineral, olha o amendoim, dois por um real.

Brasília, você não é Minas Gerais, 

mas quem te conhece não esquece jamais. 

Teu céu é o meu lar

Teu coração é meu abrigo

Quero ser morada de coisas boas, 

de sementes plantadas da multidão, 

de flores de ipê que florescem no eixão.


JAIME TAVARES

Brasilia-DF 17/08/2020 - 00:56 am

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